PARASHÁ 06 - TOLEDOT - Gênesis 25:19 à 28:9.

 


PARASHÁ COMENTADA


Parashá 06 - Toledot - Gênesis 25:19 à 28:9


Haftará: Malaquias 1:1 à 2:7; Romanos  9:6 à 16; Hebreus 11:20 e 12:14-17


Belém, 22 de Novembro de 2025 - 02 de Kislev de 5786


Comentário Judaico Netsari sobre o Estudo semanal da Torah do Ciclo anual das Parash'ôt.


Contexto Histórico:


Entre os hebreus o primogênito tinha direito a receber uma porção dobrada da herança paterna, o restante da herança era distribuída entre os demais filhos. Por ter nascido primeiro e ser o mais velho, o primogênito do sexo masculino era o filho mais  importante da família porque acreditava-se que ele representava a essência da força e vitalidade humana (ver Gênesis 49: 3 e Salmo 78:51). Como resultado, o filho primogênito tornava-se o herdeiro principal da família.

No período patriarcal o filho primogênito recebia a primogenitura e, assim, herdava o direito de ser o chefe da família quando o pai oi patriarca falecia. Para assumir tal responsabilidade o primogênito tinha que ser digno de tamanha honraria e possuir o mesmo caráter digno do pai, tal não se via em Esaú porém em Jacó.

A venda de toda uma herança por um prato de lentilhas:

A Parashá Toledot nos apresenta a maravilhosa e polêmica história de Yitzchak, Rivika e seus filhos gêmeos Esaú e Ya'akov, Yitzchak tinha a idade de 40 anos quando desposou Rivika. Infelizmente Rivika era estéril e não concebia, Yitzchak rezou por 20 longos anos ao Eterno pedindo que curasse sua esposa, finalmente Rivika engravida. 

Era Yitzchak de  60 anos, quando nasceram os seus filhos, Esaú e Ya'akov,  a Torah relata que Esaú e Ya'akov lutavam desde o ventre de sua mãe, ao nascerem, Esaú saiu primeiro por isso foi considerado o primogênito, veio todo vermelho e peludo, e a mão de Ya'akov agarrava o seu calcanhar.

Os irmãos cresceram, Esaú se tornou um exímio caçador mas era só o que ele sabia fazer, não se interessava pelos negócios da família mas apenas o que lhe interessava era orgias e bebedeiras. Ya'akov era um homem sensato cuidadoso com os negócios de seu pai, era um ótimo administrador, lidava com os servos e administrava bem o rebanho da família além de ser um bom cozinheiro também.

A trama começa quando Esaú, cansado de uma caçada frustrada, chega até a tenda de Ya'akov sentindo o aroma de um delicioso cozido, em uma negociata insólita Esaú vende seu direito de Primogenitura por um simples prato de cozido de lentilhas. Nesse ponto, vale uma reflexão sobre a importância que se dava naqueles tempos à proeminência do filho mais velho e aos direitos a ele concernentes, especialmente as bênçãos paternas, que valiam como uma herança, como também, à relevância dessas bênçãos, que equivaliam a uma sentença. 

Por isso, soa espantoso o aparente descaso de Esaú a essa tradição, ao trocar a sua primogenitura por um simples prato de lentilhas. os sábios sustentam que em verdade ele não pretendia honrar a promessa, eles associam o papel de caçador de Esaú a quem se utiliza de enganações para capturar a caça, assim, pensando ele que estava enganando Ya'akov fingindo ter trocado sua Primogenitura pelo prato de cozidos mas que, na verdade ele o estava ludibriando para que, no momento que seu pai lhe chamasse para dar-lhe a Bênção e a Herança sorrateiramente ele tomaria a frente de Ya'akov e a receberia.

Mas o tiro saiu pela culatra, o quão frustrado ele ficou quando soube que seu irmão foi muito mais esperto do que ele, com a ajuda de sua mãe é claro.

Praticando a Política da boa Vizinhança:

Houve uma grande seca e fome na terra de Canaã e Yitzchak foi morar na terra dos palestinos ou filisteus, e ali prosperou muito, causando grande inveja. E Abimelech, seu rei, o expulsou de sua terra, temendo que Yitzchak, enriquecido, fosse comprando toda a terra dos filisteus.

Yitzchak foi-se embora habitar no Vale de Guerar e lá prosperou e enriqueceu ainda mais, Abimelech o procurou para selar uma aliança de Shalom na esperança de que o D'us dos hebreus, vendo que ele estava tratando bem o seu servo, abençoasse a ele também, típico daquelas pessoas que só se aproximam da Teshuvá do Eterno por interesse de enriquecerem.

Bênçãos e Maldições:

Chegou o momento tão esperado da transmissão do Cajado de Patriarca, Yitzchak chama Esaú e lhe faz um pedido, uma caça saborosa, será que Yitzchak acreditava mesmo que Esaú iria mudar seu caráter da água para o vinho ao receber o Cajado de Patriarca? Em sua intenção Yitzchak pensava que a profissão de caçador de Esaú chegaria ao fim ao receber a Bênção, que ele se tornaria um homem de negócios pois passaria a administrar os negócios da família, por isso pediu sua última caça, ledo engano.

Esaú estaria pronto a esbanjar toda sua herança em jogos inúteis, mulheres, bebedeiras e carnalidades, por isso Rebeca ouvindo o pedido do marido correu a Ya'akov  e rapidamente arquitetou um plano infalível. 

Preparar uma refeição para enganar a seu pai, se passando por seu irmão, e receber as suas bênçãos, Ya'akov relutou, desconfortável, mas, lembrando do acordo feito entre ele e Esaú no passado, aceitou o plano de sua mãe, que lhe vestiu com roupas de Esaú e lhe cobriu o corpo com pelos dos cabritos para que parecesse peludo. 

E assim, Yitzchak  abençoou Ya'akov, o que sobrou para Esaú? Apenas maldições, o Midrash diz que Ya'akov seguiu o que sua mãe determinou com dor na consciência por estar enganando a seu velho e cego pai. Apesar disso, a justiça divina o castigou com a mesma moeda, nos anos subsequentes, no período em que Ya'akov foi morar com seu tio labão. 

Rivika, nossa sábia Matriarca, assim agiu por saber das falhas de caráter de Esaú, que o tornavam indigno de liderar a nação hebraica do Povo da Aliança, sim, Rivika em sua intuição feminina previu a desgraça que seria dar poderes demais a um homem que não tinha a mínima condição de liderar uma nação escolhida, a Vontade do Eterno foi feita.


Conclusão:

A Parashá desta semana é chamada de Toledot, cujo significado é Gerações, essa porção começa narrando a vida do Patriarca Yitzchak, seu casamento e sua obra para o Eterno. No entanto, o nascimento de seus filhos Esaú e Ya'akov é o aspecto central desta Parashá.

O Zohar nos ensina que os gêmeos (Esaú e Ya'akov) simbolizam duas forças que coabitam dentro do ser humano: a alma animal e a Divina. Esses dois níveis de consciência estão, constantemente, tentando assumir o domínio sobre o ser humano, pois não podem ser simultaneamente vitoriosas ao mesmo tempo.

A luta entre as duas almas não significa que a alma animal seja algum tipo de maldição que somos forçados a levar dentro de nós. A alma animal (instintiva) é um permanente desafio para nosso refinamento e evolução. Os gêmeos representam dois paradigmas de visão de mundo que se opõem, mas que, na verdade deveriam se completar. 

O corpo existe para que nossa alma Divina possa se expressar, ouvir nossa consciência nos acusando ou nos ensinando o caminho certo a seguir é um privilégio que poucos ainda tem, geralmente damos mais ouvidos a a nossa alma animal. Que Adonai Eterno abençoe o Estudo, a Leitura e a Prática de sua Palavra.


Congregação Israelita Netsari Beyt B'ney Avraham - Belém/Pa

Prof. Historiador: Marlon T. Troccolli

Referências bibliográficas:

TORAH - A Lei de Moisés - edição revista e ampliada - 2001 (Editora Sefer).

CHUMASH - Torá - Rabbi Meir Matzliah Melamed ZT”L (Editora Sefer).

ZOHAR - Tratado Toledot  133b - 146b.

MACDONALD - William - Comentário Bíblico Popular. Antigo Testamento. 1º Edição, São Paulo (Editora Mundo Cristão, 2004)