PARASHÁ COMENTADA
Parashá 25: Tzav, Vayikra/Levítico 6 à 8
Haftará: Jeremias 7:21 à 8:3 e 9:22-23; Marcos 12:28-34; Romanos 12 1-2; 1 Coríntios 10:14-23
Shabat, 30 de Março de 2024 – 20 de Adar II de 5784
Este é um comentário sucinto e objetivo das Lições da Torah e dos Profetas (ver Atos 13:15) ou Parash'ôt. A Parashá desta semana é chamada de Tzav (Ordene). Esta porção é quase uma continuidade de Vayikrá e começa com os ensinamentos relativos ao serviço no Mishkan, a Porção da semana passada descreveu os sacrifícios, da perspectiva do doador, nesta semana a Torah concentra-se mais diretamente nos Sacerdotes, fornecendo mais detalhes sobre seu serviço.
Depois de descrever a manutenção do fogo sagrado que ardia sobre o altar, a Torah vai nos detalhar os vários tipos de sacrifícios que Aarão, seus filhos e as gerações seguintes de Sacerdotes deveriam oferecer.
A porção desta semana continua o contorno dos korbanot (sacrifícios), que começou na semana passada em Parashat Vayikra, seu título, Tzav, é um significado imperativo "ordene ou comande", o sacerdote como o agente do Eterno certifica-se de que a oferta do adorador é apresentada na forma como Adonai deseja.
A ordem tanto era para instruir os sacerdotes com respeito ao método correto de se oferecer os sacrifícios como a maneira com que eles deveriam se vestir quando fossem oferecer tais sacrifícios.
Em uma passagem paralela em Êxodo chamado Tetzaveh, da mesma raiz como Tzav, ver Êxodo 28: 40-43, as peças de vestuário sacerdotal são descritos na mesma ênfase que a mobília no Tabernáculo, como se o próprio sacerdote fizesse parte delas.
Mas nossa passagem vai mais longe, enquanto o ofertante colocava suas mãos sobre a cabeça do animal ofertado, sugerindo uma transferência de culpabilidade do pecador para seu substituto expiatório, as descrições das vestes do sacerdote sugerem que o sacerdote também faz parte da oferenda, uma representação exata da obra do Messias como vítima expiatória e sacerdote ao mesmo tempo. É exatamente neste sentido que Isaías profetiza no capítulo 53 quando diz:
"Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de D'us, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados" - Isaías 53:4-5
Da mesma forma como a vítima animal não era culpada pelos pecados do pecador, mas entrava como substituta carregando suas culpas, assim foi o Messias de Yisrael, Yeshua não morreu em nossa lugar como dizem os cristãos simplesmente porque a Torah declara que ninguém morrerá pelos pecados do outro(ver Deuteronômio 24:16), mas que a vítima substituta juntamente com o sacerdote ministrante carregam involuntariamente a culpabilidade do pecador.
E a Parashá continua descrevendo outras oferendas, a oferta de cereais, Minchah, literalmente, aquilo que é colocado no altar, uma parte é enviada simbolicamente para o reino invisível do Eterno por meio da queima da oferenda, como o Olah, mas o restante é comido por Aarão e seus filhos.
Esta oferenda é feita de farinha e óleo de oliva apenas (sem a adição de ovo), cozido semelhante a panquecas. Eles deviam ser feitos sem fermento (chametz em hebraico), isto é, um Matzá, como e todos os outros alimentos de Pêssach.
Talvez fosse uma lembrança constante do ritual da passagem que ocorreu nas vésperas da saída do povo de Yisrael do Egito, porém, na Minchá, o Matzá teria outra conotação, Adonai instrui Moisés para dizer a Faraó: "Deixa ir o meu povo, para que me sirva" (Êxodo 10:3), agora que eles estão livres, eles construíram o Tabernáculo, e podem servir ao Eterno como Moisés havia dito a faraó, e a oferta de cereais (ázimos) lembra-lhes isso.
Temos a seguir a Oferenda pelo pecado (chatat - Levítico 6:24-30), e a Oferenda pela culpa (asham – Levitico 7:1-10). São chamadas de refeições kedoshim (coisa santíssima) e deveriam ser comidas pelos sacerdotes dentro do Mishkan, há um simbolismo muito grande envolvendo este ritual que não foi de todo revelado na Torah mas sim em Isaías, novamente Isaías entre com a revelação de quem seria este sacrifício de Asham:
"Todavia, ao Eterno agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma for posta por Expiação do pecado(Asham - אָשָׁם), verá a sua posteridade, prolongará os seus dias; e o bom prazer de Adonai prosperará na sua mão" - Isaías 53:10
O judaísmo moderno prega que o Servo sofredor de Isaías 53 é o próprio povo de Yisrael, mas isso é uma tremenda falácia, para tentarem provar esta Mentira usam de argumentos sofismáticos que induzem os incautos ao erro dizendo que Yisrael sofreu tanto e continua sofrendo justamente por ser este Servo sofredor, o que é MENTIRA, Yisrael sofreu sim e sofre ainda hoje mas não por ser um um Tsadik-Justo, muito ao contrário, Yisrael sofreu por ter VIOLADO GRANDEMENTE a Torah Sagrada, e Adonai deixou bem claro que, se eles desobedecessem Suas Leis e Mandamentos eles seria expulsos da terra Santa, e vagariam pelo mundo sendo humilhados e perseguidos:
"E Adonai vos espalhará entre todos os povos, desde uma extremidade da terra até à outra; e ali servireis a outros deuses que não conheceste, nem tu nem teus pais; ao pau e à pedra. E nem ainda entre estas nações descansarás, nem a planta de teu pé terá repouso; porquanto Adonai ali te dará coração agitado, e desfalecimento de olhos, e desmaio da alma.
E a tua vida, como em suspenso, estará diante de ti; e estremecerás de noite e de dia, e não crerás na tua própria vida. Pela manhã dirás: Ah! quem me dera ver a noite! E à tarde dirás: ah! quem me dera ver a manhã! pelo pasmo de teu coração, que sentirás, e pelo que verás com os teus olhos" - Deuteronômio 28:64-67
Quando um israelita pecava ele não se suicidava para pagar os seus pecados, ele tinha que levar uma oferenda animal que morreria e, com seu sangue EXPIARIA seus pecados, ou seja, o Servo sofredor NUNCA em hipótese alguma pode ser o próprio Yisrael, pois até Yisrael precisará de um SUBSTITUTO que EXPIARÁ com o seu sangue os pecados deles, por isso que Isaías declarou: "ainda que NUNCA cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca" (Isaías 53:9), estas não eram as características do Yisrael que sofreu, por tudo isso Yisrael Nunca e Jamais poderá ser o Servo Sofredor de Isaías 53.
Continuando, o sangue e a gordura deveriam ser evitados o seu consumo, o sangue era derramado debaixo do altar e a gordura era queimada junto com a oferenda.
Em seguida, as variedades de oferendas (sh'lamim) são detalhados (Levítico 7:11-18): A Oferenda de gratidão (todah zivchei) e a Oferenda voluntária (neder ou n'davah).
Essas oferendas especiais acompanhavam expressões de testemunhos verbais de Ação de Graças, Cânticos ou Juramentos, tudo numa demonstração de interligar o poder do Altíssimo com os eventos ocorridos em nossas próprias vidas tais como milagres, curas, salvamentos, libertação, livramentos, bênçãos recebidas e etc...
A porção termina com a cerimônia de consagração de Arão e seus filhos, o sacerdote é novamente tratado como parte do mobiliário no Tabernáculo no versículo 10, quando, depois que Moisés vestiu Aarão com suas vestes sacerdotais, ele unge o todo o Tabernáculo.
Depois ele imola um touro para um chatat, aparentemente para expiar os pecados de Arão antes de sua consagração, Moisés leva um pouco do sangue e coloca-o sobre os chifres, nas extremidades das pontas do altar. Pouco tempo depois ele borrifa sangue nas extremidades da orelha de Arão e de seus filhos, no polegar da mão direita, e do pé, como se, seus corpos, fossem a extensões do altar (Levítico 8:22-24).
Eles, em seguida, deveriam sentar-se à entrada da Tenda do Encontro, durante sete dias, comendo a carne e o pão fornecido a eles.
O simbolismo é rico: A porta da Tenda lembra Abraão, que estava sentado na porta de sua própria barraca e viu a Presença da Luz Divina (Gênesis 18:1); os sete dias recordam os sete dias da criação, como se Arão e seus filhos estivessem sendo recriados durante este período em tendas de vida.
Ouve um debate no período rabínico sobre se o Messias viria a partir da linhagem davídica dos reis ou dos sacerdotes, os essênios exploraram muito esta discussão, e a leitura deste Haftarah é um lembrete de que, tradicionalmente, os judeus têm olhado para o Messias como aquele que vai restaurar o Templo e seus rituais, o judaísmo progressista(antigo reformista) rejeita este aspecto do messianismo judaico, olhando em direção a uma era messiânica de paz e justiça universal.
Pode o Tabernáculo servir como um símbolo da presença Divina entre nós, isto é percebido em Apocalipse 21:3, na porta da Tenda, os responsáveis do serviço religioso se preparavam na grande tarefa de celebrar a presença do Eterno em nosso meio.
No judaísmo antigo, os sacerdotes eram um símbolo da vocação de todo o povo de Yisrael como nação sacerdotal (ver Êxodo 19:6), encarregado de trazer as nações para o serviço de D’us. O imperativo de Tzav pode servir para despertar o chamado em cada um de nós como sacerdotes do Altíssimo.
O Sentido Espiritual da Parashá(comentários da Kabalah):
A Parashá Tsav acaba parecendo apenas uma repetição do Vayicrá, porque continua falando sobre os sacrifícios feitos pelos Sacerdotes e sobre o processo de consagração dos mesmos. A missão do “sacerdote” é ser uma ponte de ligação entre o Mundo Infinito, onde o Eterno habita, e o mundo material.
Esta Porção ensina que devemos aprender a separar o nosso sacerdócio, de toda forma de corrupção para assim dar-lhe a unção (que nada mais é do que o seu propósito) que lhe é destinado.
Aarão, o irmão mais velho de Moisés, que sempre o acompanhou em suas missões, na qualidade de seu porta-voz e “assessor”, agora estava prestes a tornar-se um tipo de líder que Moisés não estava destinado a ser: um Sumo Sacerdote.
Moisés também não entraria na Terra Prometida junto com o povo de Yisrael. Esse foi o papel de Josué.A missão de cada pessoa é única e todas são igualmente importantes.
Todos nós viemos a este mundo com uma missão, e quando não cumprimos essa tarefa que é exclusivamente nossa, a Luz que viemos revelar permanecerá oculta não cumprindo assim os seu propósito no mundo que é de ser Luz aos gentios (ver Isaías 42:6).
Korban, em hebraico, significa sacrifício no sentido de expiação e deriva do mesmo radical da palavra aproximar. Por isso que o sacrifício(korban) oferecido por Yeshua aproximou a todos, judeus e gentios arrependidos e dispostos a viver sob a Luz do Eterno conforme ensina o Rabi Shaul haSheliach:
“Naquele tempo estáveis sem o Messias, separados da Congregação de Yisrael e estranhos às Alianças da promessa não tendo esperança e sem o Eterno no mundo. Mas, no Messias Yeshua, vós que antes estáveis longe, fostes APROXIMADOS pelo sangue [da expiação] do Messias” (Efésios 2:12-13)
Encontramos o assunto de sacrifícios pela primeira vez na Torah, quando os dois filhos de Adão trouxeram oferendas ao Eterno. Abel ofertou do melhor de seu gado e Caim deu apenas os restos de seus frutos. As oferendas de Abel foram aceitas e as de Caim foram rejeitadas.
Quando desejamos nos aproximar da Luz temos que dar o melhor de nós mesmos. Cada pessoa tem que trabalhar para refinar seu temperamento, sua natureza e instintos, isto é, sacrificar sua “natureza animal”.
Em outras palavras, quem sabe controlar suas vontades, subjugar seu ego e substituir seus desejos egoístas por altruístas, fica mais próximo da Luz Divina.
O Refinamento e a Reparação é a nossa Missão no Mundo físico, devemos procurar nos tornarmos melhores dia após dia, a estagnação gera o início do ciclo repetitivo de falências em nossas vidas. O Refinamento é algo que o ser humano deve exigir de si mesmo e não do “outro”, quando queremos despertar no outro a consciência e o comprometimento com o seu crescimento pessoal, devemos fazê-lo sim, mas através do nosso exemplo, de nossa personalidade e dos valores que transmitimos.
Que Adonai Eterno abençoe a Leitura, o Estudo e Prática de sua Palavra.
קהילה ישראלית ספרדי נצרית בית בני אברהם
Congregação Israelita Sefardita Netsarim Beyt B'nei Avraham – Belém/Pa
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Marlon T. Troccolli
