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PARASHÁ 09 - VAYESHEV

 PARASHÁ COMENTADA


Parashá 09 - Vayeshev - Gênesis 37 à 40


Haftará: Amós 2:6 à 3:8; Atos 7:9 à 10



Belém, 13 de Dezembro de 2025 - 23 de Kislev de 5786


Comentário Judaico Netsari sobre o Estudo semanal da Torah do Ciclo anual das Parash'ôt.


Contexto Histórico:


A história de Yossef ocorreu durante o período dos hicsos (cerca de 1720–1550 a.e.c..), quando um povo de origem semita dominou o Egito antigo. Isso explicaria como um estrangeiro como Yossef pôde ascender a uma posição tão elevada, tornando-se o Vizir, segundo no comando após o faraó.


O faraó era considerado um deus vivo e governava com autoridade absoluta. Os vizires, como Yossef, eram seus principais auxiliares e responsáveis pela administração do reino, incluindo o controle da economia, distribuição de grãos e supervisão da agricultura.


Uma curiosidade: Alguns historiadores minimalistas dizem que a história de Yossef não passa de conto de fadas pelo fato de não se ter nada sobre ele nos escritos e nos hieroglíficos da época. Acontece que, quando um faraó sucedia outro eles mandavam APAGAR vestígio de seus antecessores, principalmente no período de dominação hicsa, por isso que, na história de Moisés, que se passou séculos depois, a Torah diz: "E um novo rei, que não conhecera Yossef, se levantou sobre o Egito" .


Yossef odiado por seus irmãos:


A Parashá Vaieshev nos leva a uma jornada fascinante na vida de Yossef HaTsadik, um homem cuja trajetória é marcada por sonhos e sua interpretação. O estudo dos seis sonhos apresentados nesta porção semanal revela não apenas os eventos futuros que moldaram a história de Yossef, mas também destaca a importância dos sonhos em nossas próprias vidas.


De todos os treze filhos de Ya'akov, Yossef era um dos mais novos, a Torah relata que Yossef era, de fato, o filho preferido de Ya'akov, ao ponto de presenteá-lo com uma bela túnica, item valioso na antiguidade. Yossef era filho de Raquel, se Ya'akov não tivesse sido enganado por seu sogro casando-se com Leah ele teria casado com Raquel como pretendia e Yosef teria sido seu Primogênito, essa certeza sempre esteve na consciência de Ya'akov e seus irmãos sabiam disso por isso eles o invejavam, pois viam que Ya'akov o tratava de forma especial.


Além de ser um jovem talentoso, sabendo ler, escrever e fazer contas, Adonai concedeu a Yossef a capacidade de ter sonhos proféticos, que revelavam um futuro distante. O sonho dos feixes e do sol, lua e as onze estrelas mudou o pensamento de seus irmãos de inveja para puro ódio.


Fazendo um paralelismo com a história de Yeshua haNetsari percebemos que o contexto é idêntico, Yeshua era invejado pelos fariseus e saduceus por ser amado pelo Eterno, esse amor era percebido pelos milagres que Yeshua realizava em Nome do Eterno, chegaram a dizer que as curas que Yeshua fazia eram feitas pelo poder de haSatan, depois, como não tinham como contradizer a messianidade de Yeshua o odiaram sem motivo(ver Salmos 35:19; 69:4; João 15:25).


Yossef vendido ao Egito:


Carregando consigo o desafeto dos vários irmãos, Yossef corria perigo de vida, a trama de o assassinarem e esconderem o corpo foi compartilhada por quase todos, os únicos irmãos que ainda se preocupavam com ele eram Ruben e Yehudá. Ruben  aconselhou os irmãos a não matá-lo, mas deixá-lo apenas jogado em um poço, com intuito de resgata-lo e devolve-lo a seu pai, e Yehudá que deu a ideia de vende-lo para poupar-lhe a vida, mesmo sendo pragmático unindo o útil ao agradável, ele se livrava de Yossef sem com isso derramar sangue inocente.


Yossef entra no Egito como escravo sem saber que este era um Plano do Eterno, Yossef teria sua Emuná testada várias vezes até reconhecer que o Santíssimo Elohim Eterno tem o domínio dos reinos dos homens e que tudo acontece por Sua vontade.

Nesta Parashá encontramos a palavra “Et” pontuada, isso ocorre apenas dez vezes em todo o livro de Gênesis, o Zohar nos ensina que “Et” é uma palavra incomum, sem uma tradução para outra língua. Essa dupla pontuação do “ET” aparece em Vayieshev, no trecho em que Yossef é vendido e vai para o Egito, indicando a presença da Luz nesse evento, embora os irmãos estivessem errados ao vender Yossef, a Luz Divina estava no controle. 


Yehudá e Tamar:


Subitamente o relato sobre Yossef dá uma pausa, também conhecida como digressão e a Parashá relata um evento que aconteceu na vida de Yehudá, a Torah relata um episódio aparentemente incidental na história de Ya'akov, inserido bem no meio da narrativa sobre Yossef. À primeira vista, esses acontecimentos interrompem a história de Yossef, mas de fato ocorrem simultaneamente a ela. 


Enquanto Yossef vive seus anos no Egito, Yehudá afasta-se da família e passa por eventos que abrangem cerca de 22 anos de história. Esses eventos vão preparar o cenário para o papel de liderança que Yehudá exercerá posteriormente, pois de sua linhagem viriam reis e, sobretudo, o próprio Messias de Yisrael, em outras palavras, Gênesis 38 não é um “parêntese” desconectado, mas uma peça fundamental na meta-narrativa da Parashá que demonstra como Adonai preserva Seu plano redentor mesmo em meio ao pecado humano.


O costume do casamento levirato, descrito em Deuteronômio 25:5-6, fornece o pano de fundo cultural para Gênesis 38, essa prática obrigava um homem a se casar com a viúva de seu irmão falecido, caso ele morresse sem herdeiros, garantindo a continuidade da linhagem. Na história, o primeiro filho de Yehudá, Er, casa-se com Tamar, mas morre sem filhos, o segundo filho, Onã, então se casa com Tamar, mas deliberadamente evita cumprir seu dever levirato, “derramando seu sêmen no chão”. 


O raciocínio de Onã parece bem pragmático: um filho nascido de Tamar pertenceria legalmente a Er, reduzindo a herança de Onã e exigindo que ele sustentasse uma criança que não era sua, no entanto, esse ato de interesse próprio é retratado como um pecado grave contra a Torah do Eterno e contra o povo da Aliança que D'us estava formando através da família de Ya'akov. Como resultado, Adonai tira a vida de Onã, um castigo que ressalta a gravidade de sua recusa em cumprir um Mandamento divino.


Yehudá, temendo pela vida de seu filho mais novo, Selah, promete a Tamar que Selah se casará com ela quando crescer, no entanto, Yehudá não cumpre essa promessa, provavelmente por medo de que Tamar fosse amaldiçoada, ele não queria enxergar que seus filhos morreram por serem perversos aos olhos do Eterno.

Essa decisão marca o próprio fracasso moral de Yehudá, pois ele nega a Tamar seu direito a um filho e a um lugar entre o povo de D'us. A narrativa, assim, prepara o terreno para a resposta ousada e controversa de Tamar, que conduz a história ao seu clímax redentor.


Desesperada para garantir seu lugar na Família da Aliança do Eterno, Tamar toma as rédeas da situação disfarçando-se de prostituta cultual. Surpreendentemente, o texto não condena o engano de Tamar e nem o envolvimento de Yehudá com uma suposta prostituta, em vez disso, concentra-se no pecado de Yehudá de negar Selá a Tamar, o que a privou do direito a um filho e desagradou ao Eterno. 

Essa ênfase narrativa abre um precedente ético, sugere que a Torah, num certo sentido e ocasião,  prioriza a justiça comunitária em vez da pureza moral individual.


Yossef no Egito:


Após Potifar ter comprado Yossef, colocou-o para trabalhar em sua casa. Tudo que Yossef fazia Adonai prosperava, de forma que foi morar na casa de Potifar, concedendo a administração de toda casa, dando posteriormente a administração de toda a sua terra. Como Yossef era abençoado pelo Eterno, e era bonito e de boa aparência, atraiu o olhar de luxúria da mulher de Potifar.


E embora a mulher lhe procurasse e insistisse nesse pecado, Yossef ainda recusava e evitava a mulher por onde andava. Como Yossef recusasse seus assédios a mulher inventou uma grave mentira contra Yossef, pega o manto, e conta para os empregados e o marido que Yossef tinha lhe assediado.


Yossef é jogado na prisão onde novamente é alçado a uma posição de liderança, desta vez ficando encarregado dos prisioneiros, dez anos depois, o mordomo chefe do faraó e o padeiro são jogados na mesma prisão. Certa noite eles têm um sonho intrigante, que Yossef interpreta de forma acurada, e a porção conclui quando o mordomo retorna a seu cargo antigo e o padeiro é executado, como Yossef havia predito na revelação de seus sonhos.


Conclusão Escriturística:


A Parashá desta semana, chamada Vayeshev, é a nona porção do livro de Gênesis, essa Parashá começa contando os eventos que aconteceram a partir do retorno de Ya'akov para terra de Canaã, mas está centrada em Yossef. Quando Yossef começa a despertar seus dons, de interpretação de sonhos e tem uma profecia, na qual todos da família se curvariam para ele, seus irmãos entenderam que ele estava planejando assumir a posição de primogenitura que Ruben perdeu e,  com essa justificativa, ele foi vendido como escravo, por seus irmãos.


Como os filhos de Ya'akov, filhos de um Patriarca com um elevado nível espiritual, puderam fazer algo tão grave contra seu próprio irmão? Geralmente as pessoas não fazem aquilo que acreditam estar errado, elas o fazem, porque convenceram a si mesmas que seus atos são, na verdade, corretos.

O ego faz engenhosas racionalizações para justificar nossas escolhas, é preciso refletir com muito cuidado para descobrir as motivações que nos movem. Somente quando assumimos nossos verdadeiros sentimentos e intenções, podemos fazer as correções necessárias para continuarmos nosso processo de evolução espiritual.


Uma coisa nessa Parashá fica bem clara: Yossef precisava chegar ao Egito e muitos anos depois, isso culminou no recebimento da Torah Sagrada e na entrada na Terra Prometida.  Nesse sentido, a ida de Yossef para o Egito era essencial não apenas para seu Tikun (correção) pessoal, como também para o Tikun de seus irmãos, que se tornariam os pais do Povo da Aliança e, futuramente o Tikun de toda a humanidade (tikun olam).

Que Adonai Eterno abençoe a Leitura, o Estudo e a Prática de Sua Palavra.


Congregação Israelita Netsari Beyt B'ney Avraham - Belém/Pa


Prof. Historiador: Marlon T. Troccolli


Referências bibliográficas:


TORAH - A Lei de Moisés - edição revista e ampliada - 2001 (Editora Sefer).


CHUMASH - Torá - Rabbi Meir Matzliah Melamed ZT”L (Editora Sefer).


CHUMASH - Torá - Rabbi Aryeh Kaplan (Editora Maayanot).


ZOHAR Vayeshev - Zohar on-line.


SODERBERGH - Save, T. The Hyksos Rule in Egypt, Journal of Egyptian Archaeology, p. 37 (1951).