PARASHÁ COMENTADA
Parashá 1: B’reshit, B’reshit/Gênesis 1 à 6:8
Haftará: Isaías 42:5 à 21; Marcos 10:1-12; 1 Coríntios 6:12-20; 1 Timóteo 2:11-15; Apocalipse 22:1-4
Shabat - Tishrei de 5785.
Este é um comentário sucinto e objetivo das Lições da Torah e dos Profetas(Atos 13:15) ou Parash'ôt. Estamos iniciando mais um Novo Ciclo de Parash'ôt anual, as Lições da Torah iniciarão no princípio de todas as coisas, Bereshit.
Esta é sem dúvida a maior Parashá da Torah, a mais difícil de ser comentada por se tratar de uma narrativa metafórica, ou seja, é como se Adonai estivesse contando uma parábola para mostrar uma realidade, todo comentário sobre esta Parashá torna-se quase conjectural pois há momentos em que Adonai é literal em sua narrativa e há momentos em que Ele é metafórico, por isso, traçamos um roteiro simples para que haja uma boa compreensão dos fatos.
Os principais aspectos panorâmicos desta Parashá são:
* “B’reshit bará Elohim et Hashamaim vê et Ha'áretz - Em princípio criou Elohim os céus e a terra”
* Os “tempos” (e não dias) da criação e o Shabat - שבת.
* Os seres vivos criados do nada, apenas pela Palavra do Eterno, foram povoando a terra.
* Os seres humanos (Adam, humanidade) criados à imagem e semelhança de quem? Adonai Eterno não tem corpo, forma, imagem, figura ou gênero, havia um modelo ou molde pelo qual Adonai usou para criar o homem?
* O Éden, (para o homem o guardar e cultivar) um local literal, morada perfeita para seres humanos perfeitos, com as suas duas árvores (da Vida e do Conhecimento do bem e do mal).
* A mulher: bênção (e não objeto) do Eterno para auxiliar o homem, seria uma criação secundária pois foi a última criatura a ser criada.
* HaSatan “a serpente” sagaz (do hebraico, o opositor, instalado no Éden para uma finalidade específica) e também servo do Eterno.
* O Pecado ou Chata - חטא: desobedecer; errar o propósito; violação da Torah.
* A Árvore do teste (local específico) ou do conhecimento do bem e do mal posta no centro da Criação, cujo fruto (saber) alcançado pelo homem o separou da árvore da Vida (Torah), cujo caminho doravante seria pelo Mashiach. O caminho do homem seria, a partir de então, a redescoberta do Eterno, o seu retorno para Ele - Teshuvá e o propósito final: Vida Eterna.
* O Yetzer haTov e Yetzer haRá (inclinação do bem e inclinação para o mal) presente em todas as criaturas do Eterno incluindo anjos, que passou a agir no homem com mais facilidade após o pecado.
O relato da queda dos seres humanos e a sua consequente expulsão do Paraíso nos abre um leque de conhecimento, no acerto de contas com o Eterno estavam o homem, sua mulher e um terceiro ser enigmático ora relatado como Nachash - serpente, cobra etc.., O texto declara que ela era "arum" desnuda, uma aspecto um tanto intrigante para este ser, Adonai chama os três de dentro do local onde Hava foi iludida para onde o homem e sua mulher foram se esconder, o texto diz que eles foram se esconder DENTRO - Betoch da suposta árvore.
Adonai ao se dirigir especificamente à mulher faz uma Profecia, de que um descendente dela, portanto, um ser humano e não um deus, iria concertar o estrago que os humanos fizeram, passando o domínio da terra para o ser Serpente, é a primeira Profecia indireta a cerca do Messias vindouro.
Estes são os principais aspectos do estudo inicial desta Parashá que dá início as narrativas sagradas da Torah, as próximas narrativas já fazem parte do cotidiano da vida dos primeiros habitantes da terra.
Uma Mitzva positiva: “Bênção/princípio” da procriação em Bereshit 1:28; Trata-se de uma Mitzva-Brachá de caráter positivo (Mandamento-Benção) ou, simplesmente, de uma Palavra-Princípio.
De fato a benção que aparece em Bereshit 1:28, dirigida aos seres humanos, e a mesma que a aparece em Bereshit 1:22, dirigida aos seres alados (aves), repteis e seres aquáticos.
Esta Mitsva tem sido objeto de infindáveis debates e discussões, mas não resta duvida que o Eterno dirige-se aos seres por Ele criados, abençoando-os (não ordenando). De qualquer forma estabelece-se um principio pelo qual todo servo do Eterno, assim como aves, peixes e outros animais, devem encontrar seu par ou companheira.
No caso do homem, o matrimônio, isto é, o leito sem maculas, torna-se, em função desta Mitsva, uma obrigação. O celibato fica completamente afastado pois, a Mitsva/Bênção só poderá ser concretizada na situação do homem unido a uma mulher.
Em Bereshit 1:22, em relação aos seres alados, repteis e aquáticos, encontra-se o seguinte:
“V’yberach'otam Elohim lemor peru ur'bu umilu et’hamayim bayamiym veha-oph’yrech ba’aretz” - "E Elohim os abençoou, dizendo: frutifiquem e tornem-se muitos, e encham as águas dos mares. Que as aves multipliquem-se sobre a terra...”
Em Bereshit 1:28, em relação ao homem e a mulher (macho e fêmea), encontra-se:
“V’yberach'otam Elohim, vayômer l’hem Elohim peru ur'bu umilu et’ha’aretz vekib’shuha uredu bidgath chaym ub’oph hashamaym ubekal-chayah ha’romeset al-ha'áretz” - “E Elohim os abençoou. E Elohim lhes disse: sejam férteis e tornem-se muitos. Encham a terra e a conquistem. Dominem o peixe do mar, os pássaros do céu e todo animal que rasteja sobre a terra…”
Portanto, como observamos, o Eterno abençoa os seres animais e a humanidade com a possibilidade de procriar, os faz macho e fêmea. Esta Mitsvá não deve ser entendida como uma “ordem” para indiscriminadamente se colocar filhos no mundo mas sim, certamente que sim, para que o homem descubra sua parceria com o Eterno no processo de criação. Está no homem a possibilidade de gerar e de cultivar o jardim e de dar prosseguimento ao propósito de criação de filhos de Elohim.
É válido se ressaltar que, a brachá-mandamento que fala sobre a procriação dos seres humanos foi dada antes da queda dos seres humanos, logo se conclui que, o sexo entre casais dentro do matrimônio nunca foi considerado pelo Eterno como pecado ou algo sujo.
Desta forma concluímos que, o sexo não foi a causa do pecado de Adão.
Kaîn e Hebel (Cain e Abel): Cain significa comprar, adquirir, possuir; Abel significa fumaça, vaidade. Adonai fala com Caim (conforme Bereshit/Gênesis 4:6-16) tentando evitar uma tragédia, entretanto, o livre arbítrio estava nas mãos de Caim, Adonai não interfere nas decisões dos homens, culpar o Eterno pelas injustiças dos homens tem sido uma constante ao longo da história da humanidade, mesmo nos corações mais duros Adonai sempre tenta evitar um mal maior falando por meio de seu Espírito, mas a decisão e a culpa pelas consequências é inteiramente do homem.
Outra fantasia encontrada, principalmente no cristianismo, é de atribuir culpa das tragédias a Satan, sim sabemos que ele faz o trabalho ao qual lhe foi designado, atiçar a nossa Yetzer haRá, mas o poder de decisão e ato é exclusivamente nosso.
O primeiro homicídio e o início de um caminho de violência e maldição para a terra, Adonai da a proibição de vencer a violência com a violência, o nascimento do terceiro filho de Adam e Eva: Shét (compensação) da início a geração dos adoradores e servos do Eterno ou os B’nei haElohim, filhos de D'us, e as filhas dos homens (geração de Cain) também da início ao conflito entre o bem e o mal e a corrupção geral do gênero humano mostra que a geração dos filhos da serpente (ímpios) sempre estariam agindo na terra contra os filhos de D’us.
A corrupção da humanidade: Na passagem de Bereshit 6:1-5 tudo indica que a menção é aos filhos de D’us (b’nei Elohim), a saber os descendentes de Shet, o terceiro filho de Adan, a linha pela qual os homens começaram a invocar o Nome do Eterno.
E, tudo indica que as filhas dos homens são mesmo as descendentes de Cain, geradas da mulher que encontrou ao sair da presença do Eterno.
Cain, recusando-se ao diálogo com o Eterno perdeu a comunhão que, ao contrário, foi mantida por seu irmão Shet. Não há nada no texto sob análise escriturística que autorize a interpretação de que os “anjos” possuíram as “mulheres”, nascendo assim seres estranhos, gigantes, deformados etc... Possivelmente, fosse essa a realidade da passagem a expressão seria, então, מלכים – malachim - anjos.
A afirmação de "anjos" serem seduzidos pelas filhas dos homens força demasiadamente a passagem. Basta olharmos para os sítios arqueológicos, e veremos como a presença humana foi significativa, determinante e única.
Parece que esta visão (dos anjos possuindo mulheres) tem alguma influência da Mitologia greco-romana pois, ali aparecem "deuses" amando mulheres e gerando "titãs".
Não é o caso das narrativas sagradas e descrições feitas na Torah. A questão seguinte: "o homem é, também, carne" em Gênesis 6:3 significa que, a mesma carne que havia recebido o influxo da Ruach haElohim (Espírito de D'us), tais homens que receberam este influxo tornando-se "imagem" de Elohim, conforme encontramos logo no início de Bereshit, se corromperam de tal modo que Adonai entristeceu-se de tê-los criado.
Por isso mesmo foram seres diferenciados e viviam centenas de anos como, por exemplo, Matusalém que viveu mais de 900 anos.
Eram quase que "imortais", mas tinham tendências carnais, isto é, paixões carnais. Por isso mesmo o Eterno limitou seu tempo de vida a, no máximo, 120 anos.
“O meu Espírito não contenderá para sempre com o homem”.
Ou seja, perpetuamente, pois o "homem" Adam foi, provavelmente, tomado de materiais inferiores, e recebeu a Ruach para ser uma "ALMA VIVENTE", uma vida carnal com alma e espírito.
Daí que o homem, no momento da criação, é a composição da matéria (corpo), da alma (vida/sangue/sentimentos/inclinações) e do espírito (fôlego/sopro divino). Apenas lembrando que o homem possui duas almas, a Nefesh-נֶפֶשׁ e a Neshamá-נִשְׁמַ.
Este homem era um ser superior, um quase "super-homem" e por ter recebido a Ruach haElohim (Espírito de D'us) foi chamado nesta passagem da Torah de B’nei haElohim (filhos de superiores, governantes, homens de D’us).
Note que a Torah menciona, nesta passagem de Bereshit 6 os "B’nei haElohim", pois no momento da criação era o próprio Eterno criando todas as coisas (a mão do Eterno, sua Ruach, conforme aparece logo no início).
O homem chamado "Adam" (da terra, vermelho) recebeu a Ruach haElohim, mas manteve suas tendências passionais.
A Parashá finaliza com o Eterno encontrando um Tsadik, um homem justo chamado Noach, ele era justo mesmo em meio a toda aquela corrupção generalizada.
Mesmo no meio de uma geração perversa, Noach estava na Graça, isso nos mostra que a Graça do Eterno sempre existiu desde o princípio e que Yeshua só a tornou Plena à todos, isto é, Yeshua plenificou a Graça do Eterno.
O sentido Espiritual da Parashá(comentários da Kabalah):
Vamos rever os principais aspectos desta Parashá.
* “B’reshit bará Elohim et Hashamaim vê et Haáretz - No princípio criou Elohim os céus e a terra, e a terra estava informe e vazia e a Ruach haElohim movia-se por sobre as águas”
Aqui nos mostra pela primeira vez que Adonai Elohim é Espírito e não uma pessoa, concordando com a declaração do Messias em João 4:24
* Os “tempos” (e não dias) da criação e o Shabat שבת.
Aqui, a semana da criação tem duas conotações, uma literal e outra metafórica, ela é literal no sentido de que Adonai deixou o Ciclo semanal criado por Ele para NUNCA ser alterado, embora algumas pessoas equivocadas insistem em dizer que o ciclo semanal criado pelo Eterno se perdeu no tempo, o que é uma grande mentira pois Adonai jamais permitiria tal coisa.
Ela é metafórica no sentido do desenvolvimento das coisas, por exemplo, o texto de Gênesis 1:11 quando diz que a terra produziu plantas e vegetais de todas as espécies, dando a entender que tudo surgiu do nada, porém não foi assim, levou tempo para que esta relva germinasse e nascesse, em Gênesis 2:4 mostra muito bem como isso aconteceu.
* O homem (Adam, humanidade) criado à imagem e semelhança de quem? Adonai Eterno não tem corpo, forma, imagem, figura ou gênero, havia um modelo ou molde pelo qual Adonai usou para criar o homem?
Sim, havia, e este modelo era o Messias, o Adam Kadimom, o Homem perfeito, nós fomos criados a imagem de um ser que já existia anteriormente no pensamento do Eterno, ele é o Primogênito de toda a Criação de Adonai(ver Colossenses 1:15), ele é a Testemunha fiel e verdadeira, porque testemunhou por revelação do Eterno toda a criação de Adonai no momento em que subiu aos céus depois de sua ressurreição, ele é o Princípio da Criação do Eterno(ver Apocalipse 3:14), ele estava no princípio no pensamento do Eterno como a Sabedoria Divina(ver Provérbios 8:22-23), ele é o Messias Yeshua.
* O Éden (para o homem o guardar e cultivar) com as suas duas árvores (da Vida e do Conhecimento do bem e do mal).
O Gan Éden ou Jardim no Éden é o paraíso no qual nós iremos morar na Restauração de todas as coisas, ele fica na Terra de Yisrael, ou o Êretz, não está acessível porque encontra-se em uma outra dimensão, quando a Nova Yerushalaim descer dos céus, o Gan Éden ficará visível a todos os salvos.
* A mulher: bênção (e não objeto) do Eterno para auxiliar o homem, seria uma criação secundária pois foi a última criatura a ser criada.
A mulher, a outra metade do homem, sem ela não existiria a raça humana. Devemos trata-la com respeito e amor.
Adonai fez o homem para a mulher e a mulher para o homem, portanto, com o Eterno não tem nada de ideologia de gêneros.
* HaSatan “a serpente” sagaz e desnuda (do hebraico, o opositor, instalado no Éden para uma finalidade específica).
Embora algumas correntes judaicas não reconheça haSatan como a serpente do Éden, só para não ter que concordar com as crenças cristãs, todavia, sabemos que sim, haSatan foi considerado uma serpente e seu simbolismo foi tão forte que chegou a afetar o próprio animal chamado por este nome.
Ele foi posto no Éden com a função de testar os primeiro seres humanos, pois esta é a real função dele, haSatan não é o inimigo do Eterno, ao contrário, ele é um servo do Altíssimo, e tem a permissão dada pelo Eterno para testar a nossa Emuná e a nossa Yetzer haRa(má inclinação).
* O Pecado ou Chatá - חטא: a violação da Torah; desobedecer; errar o propósito. Sabemos que o pecado, chatá, é a violação da Torah(ver 1 João 3:4), logo, já havia a Torah no Éden. Na verdade, a Torah é Árvore da Vida que ficava no meio do Jardim.
* A Árvore do conhecimento do bem e do mal (local específico) do teste (conhecimento do bem e do mal) no centro da Criação, cujo fruto (saber) alcançado pelo homem o separou da árvore da Vida, cujo caminho doravante seria pelo Mashiach. O caminho do homem seria, a partir de então, a redescoberta do Eterno, o retorno a Ele-Teshuvá e o propósito final: Vida Eterna.
Na verdade não havia árvore nenhuma, tudo é metafórico, havia sim um local específico onde, de imediato, era proibido o acesso aos primeiro seres humanos, eles iriam sim poder consultar o Conhecimento contido neste lugar, porém de forma gradual, paulatinamente, a medida em que eles fossem crescendo espiritualmente, mas haSatan encurtou este caminho e o homem pôs tudo a perder pela desobediência à Palavra de D'us.
A Árvore da Vida é a própria Torah Sagrada, onde o seu conhecimento nos dá Vida(ver Levítico 18:5).
* O Yetzer haTov e Yetzer haRa (inclinação do bem e inclinação para o mal) que passou a agir no homem.
Nós carregaremos estas duas inclinações para o resto de nossas vidas, inclusive no Olam Habá, porém, o que vai fazer a diferença para a nossa salvação é o nosso domínio sobre estas duas forças(ver Gênesis 4:7).
O pecado não é um estado mas sim uma Ação, assim, não existe esta doutrina do pecado original criado por Roma, o pecado não é passado pelo DNA, isso é um absurdo, toda criança nasce sem pecado, ela aprende a pecar observando as más ações de seus pais, a Torah em Bereshit 8:21 declara que o homem é mal desde a sua juventude e não desde o seu nascimento.
Assim, tentamos decifrar as primeiras narrativas de Bereshit segundo o Drash hebraico.
Que Adonai Eterno abençoe a Leitura, o Estudo e a Prática de sua Palavra.
קהילה ישראלית ספרדי נצרית בית בני אברהם
Congregação Israelita Sefardita Netsari Beyt B'nei Avraham – Belém/Pa
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Marlon T. Troccolli.
